O Deus Cernunnos
(Mitologia Celta)
Cernunnos é, possivelmente, a mais antiga divindade do
panteão celta. Há sinais, inclusive, de que ele seja anterior às invasões
celtas. Independentemente de sua origem, o Deus Cornudo (ou Galhudo, ou
Cornífero), desempenha uma função importante não só por se tratar do Senhor dos
Animais - domésticos e selvagens -, mas também da fertilidade e da abundância -
regulando as colheitas dos grãos e das frutas - e Mestre das Caças. Ele
conectava a Terra, o Céu e o Mar no centro sagrado do mundo, como a
representação da Natureza. Posteriormente, foi considerado também o deus do
dinheiro e, em alguns momentos, é associado ao Sol.
Segundo as lendas, Cernunnos (o princípio masculino) é filho
da Grande Deusa (o princípio feminino). Ele atinge sua maturidade no solstício
de verão e se apaixona pela Deusa. Ao fazerem amor, deposita toda sua força e a
engravida. Quando a Deusa dá a luz no solstício de inverno, o deus morre, pois
foi ele mesmo que renasceu. É a representação da passagem das estações. Um
símbolo do poder natural da vida e da morte.
Essa relação incestuosa foi substituída por outra lenda,
registrada por um poeta. Nela, Cernunnos nasceu da Grande Deusa sem seus
chifres. Atingiu sua maturidade no verão e se apaixonou por Epona. Com ela se
casou e ambos reinavam no subterrâneo - onde encaminhavam as almas. Porém,
Epona precisava vir à Terra cumprir suas funções de deusa da fertilidade,
lembrando a história de Hades e Perséfone. Num desses momentos, Epona o traiu e
uma galhada começou a nascer na cabeça do deus. Daí viria a ligação entre
traíções e chifres.
Sua primeira representação conhecida está presente em uma
gravação sobre rocha datada do século IV encontrada no norte da Itália. Aparece
como um ser de aspecto antropomorfo, dotado de dois chifres de cervo na cabeça
e dois torques em cada braço. O torque - espécie de argola aberta torcida com
as extremidades em forma de esferas - é um atributo de poder e realeza
utilizado no pescoço ou nos braços pelos grandes chefes e guerreiros mais
destacados para que fossem identificados como mestres na sociedade celta.
Ao lado desta imagem estava desenhada uma serpente com
cabeça de carneiro - símbolo de renascimento e sabedoria. Acreditava-se, então,
que Cernunnos poderia tomar a forma deste animal. Frequentemente é representado
acompanhado por animais, principalmente cervos e touros, que se alimentam de um
grande saco que tem em seu poder, ou por serpentes que se alimentam da fruta
oferecida entre suas pernas. Em algumas ocasiões - como no caldeirão Gundestrup
(foto) encontrado na Dinamarca -, aparece sentado de pernas cruzadas.
Os deuses com chifres são sempre identificados como
entidades de sabedoria e de poder. Na Antiguidade, tais protuberâncias
cefálicas podiam ser levadas apenas pelos mais viris, dotados de valor, honra,
masculinidade etc. É possível que a idéia de "coroa real" venha daí.
Um conto popular gaélico fala sobre viajantes que ganharam chifres ao comerem
maças da floresta de Cernunnos. Após mordê-las, chifres cresceram em suas
testas e eles passaram a compreender muitas coisas que aconteciam ao redor do mundo.
Uma lenda escocesa afirma que chifres apareciam na cabeça dos melhores
guerreiros. Os vikings são popularmente conhecidos por seus elmos com chifres,
mas eles nunca levavam adornos semelhantes aos combates, pois isso seria um
grande incômodo. Na verdade, utilizavam capacetes lisos e práticos, quase sem
ornamentos. Os famosos capacetes com chifres eram utilizados apenas em
cerimônias religiosas.
Cernunnos foi
muito adorado entre os povos celtas da França (Gália) e da Grã-Bretanha - onde
foi associado a Belatucadnos, um deus da guerra. Os gregos associavam-no a Pã,
mas os romanos o relacionaram a Mercúrio. Na Irlanda medieval, os chifres de
Cernunnos foram transferidos ao Diabo, dando forças ao cristianismo contra o
paganismo, infelizmente.
Fonte: Mitos Graphos
Wikipedia
LUZ E HARMONIA
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